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Valor Econômico:Inovação precisa trazer perspectiva de resultado financeiro, mostra pesquisa

  • Foto do escritor: Lucas Saliba
    Lucas Saliba
  • 9 de abr. de 2023
  • 4 min de leitura

Atualizado: 12 de abr. de 2023

Investimentos precisam estar muito mais próximo de medidas incrementais que visem benefícios de eficiência, aponta levantamento da Fundação Dom Cabral


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Ao contrário do que fazem crer o destaque de algumas mídias sobre tecnologias que podem mudar a forma como vivemos no futuro, o trabalho de inovação nas empresas, em especial no contexto brasileiro, precisa estar muito mais próximo de medidas incrementais que visem, desde o início, benefícios de eficiência que se traduzam em ganhos financeiros. Este é um dos resultados de uma pesquisa da Fundação Dom Cabral (FDC) sobre o potencial de inovação das empresas do país.


O levantamento, realizado com 58 empresas de grande porte — que são as que mais têm recursos e orçamento para fazer investimentos desse tipo —, mostra ainda que, antes de gastar seus recursos com tecnologias ou startups que, no fim, renderam apenas para a estratégia de marketing, as empresas precisam dar um passo atrás e ter certeza de que a estratégia e a forma como vão introduzir processos de inovação dentro da empresa foi bem definida.


“Existe um grande descolamento entre o que é publicado sobre tecnologia, que mostra o futuro ligado a coisas como o blockchain ou a web3, e como as empresas brasileiras que lideram a inovação trabalham. O investimento aqui está focado em melhorias no processos da empresa. Por aqui, 60% do investimento está ligado a isso”, diz Hugo Tadeu, diretor do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da FDC. “Antes de pensar em tecnologia de futuro transformacional, o foco é ‘tangibilizar’ esse resultado, entender como isso pode afetar o resultado financeiro em um prazo mais curto.”


A pesquisa mostra relativa estabilidade dos recursos destinados para inovação em 2023, em 3,5% da receita líquida. Dessa rubrica, os recursos distribuídos para inovação de processos devem crescer dos atuais 60% para 70% na média do ano. Já os recursos destinados à inovação tecnológica devem cair dos atuais 14% para 8%. “É algo ligado ao custo de capital, que está em alta”, diz o pesquisador.


Em termos práticos, diz, é preciso olhar mais para a melhoria dos processos da empresa e também para a interface com os clientes. Saber levantar a jornada do cliente, levantar dados sobre ele, transformar isso em mecanismos que facilitem o seu processo de decisão.


Um exemplo de como usar a tecnologia para reduzir custos e facilitar decisões é a plataforma digital MyPardini, do Grupo Pardini. A empresa, que conta com mais de 7,2 mil laboratórios conveniados, hoje oferta uma 103 serviços e 40 funcionalidades aos seus parceiros, desde o cadastramento, agendamento e coleta, integração de sistemas e até o rastreamento das amostras que serão processadas em seu laboratório.


Quando foi lançada a plataforma tinha apenas um serviço, a emissão da segunda via da conta do cliente. “Foi um desenvolvimento incremental. A gente ia desenvolvendo soluções. O resultado precisa vir em três semanas, um mês, não pode demorar um ano”, diz João Vicente Alvarenga, diretor-executivo de tecnologia e digital do Grupo Pardini.


A empresa tem uma equipe de engenheiros, matemáticos e estatísticos dedicada a desenvolver e testar essas soluções, mas cria grupos com profissionais de outras áreas para ajudar na criação e testagem do produto mínimo viável. “Não faz sentido esperar 12 meses para entregar o desenvolvimento. Melhor entregar 20% a cada vez, mas tiros certeiros, que o cliente consiga reconhecer o avanço”, diz.


A Pardini, que tem se debruçado sobre a base de dados gerados pelas próprias operações em busca de ganhos de eficiência, também desenvolve protocolos de inteligência artificial para buscar, por exemplo, para identificar usuários que têm maior propensão de deixar de ser cliente nos próximos meses ou ainda a melhor esquema logística para escoamento dos exames de pacientes atendidos à domicílio até seus centros de análise. “Economizamos mais de 35 mil quilômetros nos três primeiros meses com essa otimização”, diz Alvarenga.


Outro dado da pesquisa da FDC que é motivo de preocupação, diz Tadeu, é que empresas desejam investir em inovação, mas não “arrumam a casa” antes. Ou seja, não estabelecem um processo struturado claro, com governança estabelecida e indicadores a serem monitorados.


O levantamento também questionou sobre a maturidade das empresas para lidar com o corporate venture capital (CVC), modalidade que cresceu nos últimos anos e que pode ser encarada como uma orma de “terceirização da inovação”, no lugar do tradicional departamento de P&D.


Apesar de entenderam o seu potencial, as respostas das empresas sinalizam que poucas construíram uma política de gestão de riscos para esse tipo de investimentos, contam com equipe dedicada exclusivamente para o CVC ou estruturaram veículos separados (fundos). A maioria também foca em investimentos na fase semente (seed capital), enquanto o foco poderia se voltar a startups em fase mais maduras, considerando o tamanho dos fundos, diz Tadeu.


Algumas empresas largaram na frente nessa estratégia, diz o pesquisador. Ele dá como exemplo a Embraer, que teve desde o começo uma estratégia de inovação e equipe dedicada a trazer resultados e desde o começo apostou no modelo baseado em Fundos de Investimento em Participações (FIP), cuja taxa de sucesso é maior do que o das empresas que decidem por fazer aportes diretamente a partir de seu balanço.


A fabricante de aeronaves brasileira lançou seu primeiro CVC em 2014, em conjunto com o Finep, BNDES e DesenvolveSP. O Fundo Aeroespacial investiu em startups de tecnologia na cadeia produtiva dos setores aeronáutico, espacial, de defesa e segurança. Atualmente, o Aeroespacial está em fase de desinvestimento.


Tadeu ressalta, no entanto, que o sucesso não vem apenas investindo em startups. “Algumas empresas do setor de saúde, em que a redução de custo é premente, não tinham tese interna sobre o que é inovação dentro da própria companhia nem olhar sobre o tamanho do próprio fundo. Acabaram fazendo investimentos em uma série com startups que não trouxeram resultados e, em pouco tempo, começaram a ser questionados por seus próprios acionistas.”



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